terça-feira, 2 de abril de 2013

Caso extrativistas: julgamento cercado de muita segurança



O juiz titular da Vara de Violência Doméstica, Murilo Lemos Simão deve presidir o julgamento dos acusados de ter matado o casal de extrativistas, José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, mortos no dia 24 de maio de 2011 no PA Praialtapiranheira, em Nova Ipixuna.
Sentam no banco dos réus, no próximo dia 3 de abril, os irmãos José Rodrigues Moreira e Lindonjhonson Silva, além do braçal Alberto Lopes do Nascimento, o Neguinho. O julgamento está sendo cercado de muito cuidado e atenção devido a grande repercussão que o caso ganhou na imprensa mundial.
Diante deste facho de luz sobre o caso, o juiz está ultimando os preparativos a fim de garantir a paz e ordem na Comarca de Marabá, uma vez que está prevista a chegada de várias ONG’s e jornalistas do mundo todo para a cobertura jornalística.
Pra se ter uma ideia, ontem pela manhã, diversos veículos de comunicação enviaram uma relação de pelo menos vinte jornalistas para cobrirem o julgamento. O documento foi protocolado pelo jornalista Felipe Milanez. Em nível local a TV RBA deve transmitir flashes ao vivo do julgamento.
Contudo, é intenção do juiz evitar a coleta de imagens de dentro do Tribunal do Júri e permitir somente no final do julgamento. A medida, segundo informou o juiz diretor do Fórum de Marabá, Marcelo Andrei Simão Santos é evitar eventuais tumultos, ou qualquer tipo de problema no que diz respeito à segurança.
Em se tratando de segurança, ontem pela manhã, representantes dos diversos órgãos de segurança pública definiram algumas medidas que visam manter a paz e a ordem durante o julgamento.
Entre estas medidas, segundo informou o tenente coronel Luís Cleber Acádio Barbosa estão o cordão de isolamento que deve ser feito em frente ao Fórum onde só podem transitar veículos oficiais e ambulâncias.
Até mesmo o acesso dos acusados, advogados e funcionários deve acontecer pela parte dos fundos do Fórum, uma vez que na frente devem se concentrar os simpatizantes do casal de extrativistas.
Até mesmo a rodovia BR-222, em frente ao Fórum poderá ser bloqueada. Ainda de acordo com o oficial, todas as pessoas que se concentrarem em frente ao Fórum, serão revistadas e nenhum tipo de artefato que possa ser usado como arma será permitida, como foices, ou facões.
De sua parte o advogado José Batista Gonçalves Afonso, que deve atuar como assistente de acusação no julgamento informou que vai manter contato com as várias lideranças ligadas aos movimentos sociais a fim de que tudo seja providenciado para evitar quaisquer problemas com as autoridades de segurança pública.
O advogado adiantou que tendas devem ser montadas na frente do Fórum, bem como cadeias devem ser colocadas aos expectadores e desta forma possam acompanhar o julgamento com o mínimo de conforto.
Por seu turno, o juiz Marcelo Andrei lembra que todas as medidas são preventivas e têm como objetivo manter a segurança e nunca cercear o trabalho da imprensa que deve acompanhar a par e passo o julgamento.


Acusados negam o crime



Os irmãos José Rodrigues Moreira e Lindonjhonson Silva negaram que tinham interesse em matar, ou mandar matar o casal de extrativistas, José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, assassinados no dia 24 de maio de 2011.
José Rodrigues informou que não tinha nenhum tipo de desavença com o casal de extrativistas e não mandou matá-los. “Sou trabalhador, comprei o lote para poder trabalhar e sustentar a minha família”, comentou.
Negou ainda que havia um grupo interessado na morte do casal e que mantinha uma pequena parcela de terra onde criava algumas cabeças de gado no assentamento Praialtapiranheira, cuja propriedade é a principal fonte de renda dele e da família.
O irmão dele também negou o crime e disse que não tinha ideia porque foi denunciado. “Não conhecia o casal e nunca tive nenhum desentendimento com eles, nunca matei ninguém”, comentou.
José Claudio e Maria do Espírito Santo viviam do extrativismo no assentamento Praialtapiranheira em Nova Ipixuna e combatiam a venda de lotes rurais, bem como defendiam a preservação da floresta.
Consta no processo, que José Rodrigues comprou três lotes neste assentamento. O casal de extrativista se opunha à venda de lotes e derrubada da floresta e constantemente denunciava o desmatamento ao Ibama de Marabá.
Por conta desta postura, eram tidos como personas non gratas por madeireiros daquela região e podem ter sido assassinados em rime de pistolagem.


Irmãos de extrativistas foragidos da Justiça


A quando do assassinato do casal de extrativistas, José Claudio e Maria do Espírito Santo, no dia 24 de maio de 2011, um homicídio veio à tona: a morte do colono Edilon Ribeiro de Souza, o Pelado, morto a tiros no dia 18 de setembro de 2009 dentro do assentamento Mamona em Nova Ipixuna.
Figura como acusados deste crime o falecido José Claudio Ribeiro da Silva e os irmãos dele: Edivaldo, Claudemir e Claudionor Ribeiro da Silva.
Por conta deste crime, o juiz Murilo Lemos Simão Santos decretou as prisões preventivas dos acusados no dia 7 de outubro de 2011 e são considerados foragidos de Justiça.
A decisão do juiz é embasada em vários depoimentos e indícios de participação dos acusados no crime.
O que teria motivado o homicídio foi uma disputa de um lote rural, entre a vítima e o acusado Edivaldo da Silva, o Marabá.
Pelado, de acordo com informações do processo, morava em metade de um lote, sendo que a outra parte seria do Marabá.
Ocorre que naquele ano, de alguma forma, o Pelado conseguiu ser assentado no lote o que teria causado a ira dos irmãos e de José Claudio.
O depoimento mais contundente é do irmão do Pelado, Manoel Ribeiro de Souza, que disse ter visto os quatro irmãos armados e ouviu tiros vindos da casa do irmão dele no dia em que foi assassinado.
Para a Polícia, Manoel de Souza narrou detalhes desse crime. Disse que quando ouviu os tiros, correu pra ver o que tinha ocorrido com o irmão dele e se deparou com os quatro irmãos armados.
Ele contou que se fez passar por um trabalhador rural contratado pelo irmão dele e que não conhecia o Pelado. O disfarce, segundo ele, foi para também não ser assassinado.
“Eles me perguntaram quem eu era, disse que era apenas um trabalhador”, argumentou dizendo que foi embora para Itupiranga e só retornou à noite para apanhar o corpo do irmão dele.
Fontes segura informou que à época do crime não houve nenhuma movimentação policial para tentar esclarecer o que houve no local e quem seriam os suspeitos. Parentes do Pelado resgataram o corpo que foi velado e sepultado em Itupiranga.
Por seu turno a reportagem levantou que tramita na 5ª Vara Penal de Marabá um pedido de revogação das prisões preventivas dos três irmãos de José Claudio.
Caso o pedido seja indeferido a Comissão Pastoral da Terra (CPT), que defende os interesses dos irmãos, deve encaminhar o pedido ao Tribunal de Justiça do Estado (TJE).
Para o advogado desta entidade, José Batista Gonçalves Afonso, não será nenhuma novidade que esta situação for usada durante o julgamento.
“É uma prática comum em julgamentos a defesa tentar inverter os papéis, ou seja, transformam as vítimas em acusados”, comentou se dizendo confiante em provar que os irmãos não cometeram o crime.