quinta-feira, 12 de março de 2015

MST ataca retiro da fazenda Cedro


Sem terra do Helenira Resende são acusados pelo ataque


Camionete do gerente foi reduzida a escombros

Casas foram parcialmente destruídas e os móveis queimados

Elias Nogueira, perito responsável por formatar laudo

Mauro Aguiar perdeu tudo e ficou apenas com a roupa do corpo 

De dezembro à março já foram abatidas 38 vacas nelore 

Delegado Alexandre Silva tem a missão de identificar sem terra



Um grupo de pessoas, supostamente ligado ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que ocupa a sede da fazenda Cedro, zona rural de Marabá, está sendo apontado como autor de uma ação criminosa que aconteceu na noite desta terça-feira (10) na propriedade. O grupo invadiu o retiro Ouro Indiano, por volta das 21h30, ocasião em que expulsaram duas famílias de trabalhadores da fazenda e destruído praticamente todos os móveis dos trabalhadores. A fazenda Cedro é uma das várias propriedades pertencentes à Agropecuária Santa Bárbara (Agrosb).
Empunhando espingardas e armas artesanais, os sem-terra por quase duas horas permaneceram no retiro, tempo suficiente para atear fogo nos móveis e numa caminhonete do gerente daquela propriedade, Carlos Vinicius da Silva Nascimento, o “Schumacher”, 34 anos.
A Cedro está ocupada desde o dia 1º de maio de 2009 e, desde então, têm sido constante os conflitos entre camponeses e seguranças armados que prestam serviços à empresa. Dessa vez, a Escolta Armada não estava na propriedade, o que facilitou a ação dos sem-terra.
De acordo com veterinário e gerente da Cedro, era por volta das 21h30 quando foi informado que estava em andamento mais um ataque ao retiro Ouro Indiano. A informação dava conta que uma família de trabalhadores estava refém. O vaqueiro Ivanildo Almeida de Sousa, 35, a mulher dele, Valdemires Sales dos Santos e três filhos do casal, de 7, 3 e 2 anos, estavam sob mira de armas de fogo. A mulher está grávida de cinco meses.
Vinicius chamou um motorista e seguiram em direção ao retiro, onde foi recebido a bala. O carro dele foi atingido por uma saraivada de tiros. “Schumacher” teve de correr e se embrenhou nos pastos. 
O carro dele, uma camionete S-10, placa OBZ-6500 foi incendiado e ficou reduzido apenas a um monte de ferro velho. Na sequência, todos os móveis das casas dos funcionários também foram todos destruídos. O coordenador do retiro Ouro Indiano, Mauro Morais Aguiar, ficou apenas com a roupa do corpo. Ele só não testemunhou a destruição porque à tarde, por volta das 17h, seguiu para a Vila Sororó onde tinha ido deixar a mulher dele Maísa Silva, que acabou de dar a luz ao primogênito. “Agora vou apelar para a empresa, pois fiquei sem nada”, disse Aguiar, ao constatar o rastro de destruição.
Por sua vez, o vaqueiro Ivanildo de Sousa, de tão assustado não quis ser fotografado e nem deu entrevistas. Apenas comentou que perdeu tudo e pensou que fosse morrer. “Quando eles chegaram mandaram que nós saíssemos das casas. Eu e minha família ficamos no curral vendo tudo o que eles fizeram. Ficamos com muito medo”, disse Ivanildo.


Delegado pretende identificar invasores

Ainda na noite de terça-feira (10), o atentado foi denunciado na Delegacia de Conflitos Agrários (DECA) de Marabá pela advogada Brenda Santis, que defende os interesses da Agrosb. De imediato o delegado titular da especializada, Alexandre Nascimento da Silva, montou uma equipe e se deslocou até a propriedade, que fica a cerca de 50 quilômetros do centro urbano de Marabá.
Ainda na madrugada o policial conseguiu ouvir alguns trabalhadores da fazenda, que informaram ter sido os sem-terra os autores do ataque. Eles narraram os momentos de pânico que viveram. A equipe da Deca retornou à fazenda novamente nesta quarta-feira, agora acompanhada do perito Elias Nogueira, que esteve periciando os danos. O delegado pretende identificar os autores da violência. Alexandre Silva informou ainda que pretende pedir à Justiça as medidas cautelares necessárias, a fim de que os acusados possam responder penalmente pelos danos.
Depois que saíram do retiro, os sem-terra deixaram para trás um rastro de destruição. O cenário era de escombros por toda parte, casas parcialmente destruídas, móveis destruídos pelo fogo, além do carro do gerente totalmente destruído.
O laudo pericial deve ficar pronto em pelo menos 15 dias. O perito Elias recolheu diversos objetos, entre eles uma faca esportiva, uma bolsa, documentos diversos, cápsulas de cartuchos de calibres 20 e 16, e até mesmo uma cápsula de fuzil calibre 44, uma tesoura, brincos de marcação de animais, e ainda uma coronha de espingarda artesanal. Os objetos vão ser periciados e devem passar pela coleta de digitais. 
Gerente denuncia constantes ataques 
A fazenda Cedro e seus respectivos retiros vêm sendo alvo de ataques desde maio de 2009, ocasião em que a propriedade foi invadida pelo MST. Gados são abatidos nessas ocasiões. O clima é tenso na área.
Desde 20 de dezembro do ano passado que o gerente Carlos Vinicius, o “Schumacher”, vem denunciando que a fazenda vem sendo atacada. Naquele dia, os sem-terra abateram 15 animais e feriram outras três vacas. Dia 31 de dezembro, quando foram abatidas nove vacas e várias cercas arrancadas. O resultado é que 50 animais fugiram e ficaram perambulando pela BR-155, oferecendo risco de acidentes.
No começo deste ano, dia 8 de janeiro, foram localizadas três carcaças de animais prenhes e que foram mortas recentemente, além de outra vaca ter sido baleada e os tendões cortados. O animal acabou sendo sacrificado, já que agonizava. Este ataque aconteceu no retiro Rio Pardo, denuncia ainda o gerente.
No dia seguinte, 9 de janeiro, novamente os funcionários localizaram quatro carcaças de animais, no retiro Ouro Indiano. A matança não parou por aí, segundo informou “Schumacher”. No dia 8 de fevereiro, novamente os sem-terra abateram uma vaca e outra foi ferida, fato que aconteceu no pasto 22, retiro sede. Dia 25 de fevereiro, novamente uma vaca foi abatida e outra ferida no retiro Ouro Indiano, onde aconteceu a maioria dos ataques. Dia 2 de março, mais cinco vacas foram abatidas e outras duas feridas mortalmente nos tendões e cortes pelo corpo. Também tiveram que ser sacrificadas. 
Ameaças - Não bastasse a matança de gado, o gerente da Cedro, Carlos Vinicius, vem recebendo ameaças de morte por telefone. Ele acredita que as ligações são feitas por sem-terra. As ameaças, disse o veterinário, surgiram após a intervenção dele e dos seguranças da Escolta Armada, que no dia 14 de fevereiro evitaram um abate de gado no retiro Ouro Indiano. Naquela ocasião, um grupo de colonos trocou tiros com os seguranças. Um sem-terra teria sido alvejado. A refrega durou cerca de dez minutos. Os sem-terra chegaram a recuar, mas mesmo do acampamento, ainda atiraram em direção à sede da fazenda.
As ameaças de morte denuncia ainda Carlos Vinicius, partiram de um telefone de número 99195-4568. Uma pessoa que se identificou como sendo Darlan, teria dito que o “companheiro” havia sido atingido e que a partir daquele dia iriam partir para o “conflito”.
Por conta da tentativa dele em repelir os ataques ao rebanho, acredita que esteja sendo ameaçado de morte. “Infelizmente, neste Estado quem produz não é valorizados, mas vamos continuar o nosso trabalho, independentemente das ameaças”, garante “Schumacher”. 


terça-feira, 10 de março de 2015

O avesso do avesso: Fazendeiros ocupam rodovia no sudeste do Pará


Protesto interdita rodovia desde a madrugada desta terça-feira
Polícia Militar intervém e negocia pacientemente com pecuaristas 

Fila enorme se formou nos dois sentidos

Cidadão teve de seguir à pé por conta do protesto dos fazendeiros





Comumente são os trabalhadores rurais sem terra que ocupam rodovias Brasil a afora em protesto contra eventuais injustiças que lhes são cometidas, mas na madrugada desta terça-feira, pecuaristas assumiram este papel e ocuparam a PA-275, entre os municípios de Curionópolis e Parauapebas.

O protesto, segundo fontes se dá por conta de possíveis roubos de gados e destruição de cercas da fazenda A Fazendinha em Curionópolis, propriedade que está ocupada há mais de cinco anos por integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Os fazendeiros de vários municípios se uniram neste protesto é liderado pelo pecuarista Darlan Lopes Gonçalves Ferreira, que se intitula dono da fazenda, cuja família reside na propriedade há pelo menos vinte anos.

Ocorre que esta propriedade seria terra da União, motivo pelo qual o MST ocupou a área e alegou na Justiça Federal tal possibilidade.

Por sua vez o juiz Ricardo Beckerat da Silva Leitão, numa decisão histórica e corajosa, determinou que em três decisões seguidas, dias 24 de julho, 18 de agosto e 10 de outubro de 2014 ele determinou que o Incra fosse imitido na posse da fazenda, em outras palavras, mandou que o Incra iniciasse a criação do Projeto de Assentamento.

Evidentemente, que tal decisão contrariou interesses dos pecuaristas que se dizem dono da fazenda Darlan Lopes Gonçalves Ferreira e Kênia de Freitas Ferreira Barreto, que por sua vez recorreram ao Supremo Tribunal Federal da decisão.

Enquanto a Justiça ainda não se pronuncio a respeito do assunto, o clima é de tensão na região, de um lado, fazendeiros supostamente armados e do outros camponeses maltrapilhos e famintos que lutam pela posse da terra e pelo direito de um dia, quem sabe ter o direito de viver decentemente e se alimentar.