terça-feira, 13 de julho de 2010

Pescadores desbravam o rio Iriri



Aventura
Grupo de amigos foi até o sudoeste do Estado para conhecer uma região quase inexplorada
Pescadores desbravam Rio Iriri

Edinaldo Sousa

Um grupo de amigos, amantes da pesca esportiva, juntou as tralhas de pesca e saiu rumo ao Iriri, no sudoeste do Pará. Para tal feito, contaram como o apoio de três camionetes traçadas e dois barcos de dez metros.
A aventura iniciou às 4 horas da madrugada de domingo.Saindo de Marabá, eles enfrentaram 800 km de estrada de chão pela precária rodovia Transamazônica, passando pelos municípios de Itupiranga, Novo Repartimento, Pacajá, Anapu, Altamira, Brasil Novo, Medicilândia e, finalmente Uruará.
Mesmo usando carros traçados foi difícil romper tantos desafios. Aguinaldo Pereira Vieira, 38, atolou numa estrada vicinal que dá acesso ao porto Maribel, distrito de Uruará. A estrada parece uma trilha tamanha é a precariedade. Para percorrer 90 km leva mais de 3 horas.
Antes, o destino dos pescadores seria o rio Curuá. Uma falha na logística transferiu o acampamento para o rio Iriri. Afinal, chegar ao Curuá levaria um dia inteiro de navegação. Ufa!
Tanto esforço valeu à pena. Em dois dias e meio de pesca, o resultado fantástico ante a diversidade de peixes fisgados e soltos. Trairões de até dez quilos, surubim, cachorra, bicuda, pirara, tucunaré, piabanha. A pescaria teve de tudo um pouco. Mas a maior foi a piranha que mais caiu na isca sendo a maioria devolvida ao rio.
Nessa modalidade de pesca é prudente as águas, espécies abaixo das medidas de capturas, uma forma de preservar o estoque de peixe e assim garantir a piscosidade dos rios.
O paranaense Marcio de Souza, 40 anos, participou da expedição do iriri. Veio a convite do empresário Jorge Dutra. Residente em Natalio,distrito de Itapua, no Paraguai. Disse ter ficado encantado com as belezas naturais da região e com as espécies fisgadas. “Aqui é maravilhoso, tudo é muito bonito, tem muitos peixes e vocês têm que lutar para preservar esse lugar tão encantador”, comentou.
“Pra mim tudo é novidade, pois na minha região não têm esses tipos de peixes”, alinhava dizendo-se totalmente inebriado com as belezas amazônicas e com a receptividade da turma de amigos que integrou a expedição. “São todos animados e divertidos”, acrescentou convidando os pescadores a integrarem uma expedição de pesca em “Esquina”, nos rios Corrientes com o Paraná, Província de Corrientes, na Argentina. O grupo ficou de analisar o convite a expedição.
O representante comercial Evaldo José Carvalho Silva, veio de Imperatriz. Acha que no Pará deveria haver incentivo a essa modalidade de pesca em contraponto à pesca profissional que, se feita fora de época dizima os cardumes de peixes.
Jordeci Santos, experiente pescador esportivo partilha da mesma idéia. “Não tem mais peixe, graças à pesca predatória, participei de várias expedições no Lago, mas agora não se pega mais nada”, observa.
Alexandre Lourenço é mais contundente. Diz que o ideal seria fechar o Lago de Tucuruí para a pesca profissional como forma de recuperar a piscosidade. “É um absurdo. Estão acabando com os peixes. Se fechar o Lago por dois anos, a população pesqueira deve aumentar, sugere.





Natureza selvagem
Na expedição ao Iriri, 800 km separam cidades amazônicas do paraíso da pesca esportiva


Trairões fazem alegria de pescadores


A Terra do Meio abriga uma das reservas naturais mais selvagens do sudeste do Pará. São 3,3 milhões de hectares de floresta nativa. Durante anos, os índios de diferentes etnias foram a muralha que manteve o homem branco longe da área.
Hoje, já é possível desfrutar das belezas naturais de rios quase intocáveis e, ao mesmo tempo, apreciar os prazeres de uma boa pesca esportiva. Na segunda reportagem sobre a Terra do Meio, o grupo que integrou a expedição pelo Iriri apresenta o resultado de dois dias e meio de pescaria.
Entre as espécies de peixes capturadas, quem mais proporcionou espetáculo foram os trairões, peixes com características pré-históricas, de carne consistente e bastante palatável e que pode pesar até 30 quilos.
Esse tipo de peixe é encontrado em saídas de grotas, cujas águas são bastante frias. Nestes locais há grande concentração de piabas, principal alimentos dos trairões. Daí a preferência por estes pontos.
Capturar estes peixes exige do pescador equipamentos pesados e de fácil manuseio. Os trairões são vorazes, ariscos e fortes, costumam quebrar os equipamentos.
Nesse tipo de pesca, os trairões costumam atacar iscas vivas, peixes mortos e até isca artificial, esta em menor quantidade. A “Cachoeira do O” foi um dos pontos de maior incidência desse peixe no rio Iriri.
Por sua vez, as cachorras, espécie abundante no rio Iriri, têm hora certa para serem capturadas. Mordem a isca no início da manhã e no finalzinho de tarde em pequenos intervalos de tempo.
Contudo, quem mais atacou as iscas foram as vorazes piranhas, sendo que os maiores exemplares foram embarcados e os peixes abaixo das medidas padrões foram devolvidas ao rio.
Personagens da aventura – Integraram a expedição ao Iriri, os pescadores: José Jordeci Machado dos Anjos Santos 46, Paulo Márcio de Souza 40, José Bezerra Neto 37, Hudson Silva 51, Evaldo José Carvalho Silva, Alexandre Lourenço, Jorge Dutra, Aguinaldo Pereira Vieira 38 e este repórter, além dos piloteiros: José Augusto da Silva, o Zezinho 42 e Antenor Darwych da Silva, peças fundamentais nos deslocamentos e identificação dos pontos de pesca.




Desbravando
Região totalmente selvagem e atraente

Exemplo do quanto a natureza é preservada pode ser observada ao longo do Rio Iriri, onde a interferência do homem nesse bioma ainda é tímida.
Um bando de caititus banhava tranquilamente nas águas frias do rio e ao perceberem a aproximação dos pescadores saíram da água e fugiram para a mata fechada.
Os pescadores se encantaram com os animais. Hudson Silva e José Neto ensaiaram uma captura aos serelepes animais, mas evidentemente que os animais foram mais rápidos. Vale lembrar que estes animais são ferozes e quando se sentem encurralados atacam e são capazes de matar.
Ariranhas em bando eram vistas atacando os cardumes de piranhas, peixe principal do cardápio das ariranhas que se reproduzem facilmente.
Jacarés, à noite, mais pareciam carros estacionados na penumbra da noite. Os olhos destes animais refletem como faróis. Durante o dia, eles também estavam por perto.
O gorjear de pássaros durante o dia inteiro mais parecia uma sonata. Atrativos como estes compõem um cenário de rara beleza e faz do lugar especial para quem aprecia os encantos da natureza.
Embora esteja localizado numa região bastante inóspita, habitada por índios, é prudente aos pescadores a escolha acertada do lugar onde devem acampar. Caso contrário podem receber a visita de índios Kaiapó. Por isso, os pescadores esportivos optaram por não acampar em área terra indígena.
Os índios quando, descobrem pescadores na área, apreendem o material, hostilizam os pescadores esportivos. Os silvícolas não aceitam a pesca nos rios, salvo se autorizarem e isso envolve reembolso por parte dos pescadores.
Recentemente um empresário de Marabá teve de desembolsar R$ 2 mil para uma tribo para não ter o material apreendido. Outro empresário de Redenção foi literalmente humilhado quando pescava numa área indígena e teve toda a tralha apreendida. O empresário teve de pagar R$ 9 mil aos índios, que por sua vez devolveram apenas o barco e o motor.
Os índios entendem que os “brancos” não precisam da pesca nos rios da reserva indígena. Acusam os “brancos” de depredaram suas terras. Por isso, rejeitam a presença deles terra indígena.
O mesmo grupo de pescadores esportivos de Marabá já teve problemas com índios em São Félix do Xingu. Agora enfrentam grandes distâncias, para acampar em locais onde possam desfrutar de uma boa pescaria, com a paz e respeito à natureza.
Os pescadores esportivos recolhem todo o lixo produzido no acampamento. O que é reciclável é trazido para o centro urbano onde é dada a destinação correta. A medida mantém a limpeza do local preserva a natureza. (E. S.)

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