terça-feira, 14 de junho de 2011

Movimentos sociais negociam orçamento




Celso Lacerda, presidente do Incra disse que não resolveria tudo

Colonos saíram decepcionados da negociação que pouco avançou

Diassis apostou olho que Incra não retoma áreas concentradas


 


Integrantes dos movimentos de reforma agrária, que acampam nas cercanias do Incra de Marabá, há mais de um mês, negociaram ontem à tarde com o presidente do Incra, Celso Lisboa de Lacerda.

O evento aconteceu no auditório do Incra e durou a tarde inteira. Houve poucos avanços no que diz respeito aos pontos de pauta apresentados pelos colonos e lideranças sindicais.

O principal ponto da pauta foi a ampliação do orçamento anual do Incra que é da ordem de R$ 495 milhões e que devem ser destinados à reforma agrária para o sul e sudeste do Pará, onde atualmente existem 495 assentamentos e 68.876 lotes.

Os movimentos sociais pleiteavam um aumento da ordem de um bilhão de reais, porém Celso de Lacerda classificou a discussão em torno apenas do orçamento é inócua. “É preciso um conjunto de fatores para atender as demandas do Brasil”, sentencia.

Ao tomar conhecimento dos pontos de pauta, Celso Lacerda foi enfático. “Não temos uma vara de condão, e seguramente com as atuais condições não dá para atender todos os pontos de pauta”, afirma.

A declaração foi o estopim para desencadear uma série de rechações por parte de lideranças de sem terra. Até por volta das 20 horas as negociações continuavam sem que houvesse avanços significativos.


Assentamento de 600 famílias este ano



Ainda este ano podem ser assentadas 600 famílias em pelo menos três fazendas: Escalada do Norte, Itacaiúnas e Céu e Mar, anunciou o diretor de obtenção de terras do Incra, Luciano Brunet. 

Para o próximo ano há a perspectiva de se assentar outras 1,6 mil famílias nas fazendas Jau, Tibiriçá e Cristo Rei.

Em se tratando de terras públicas, como é o caso da fazenda Peruano, em Eldorado do Carajás, há ação na Justiça o que impede a atuação do Incra, porém caso consiga reverter na Justiça podem ser assentadas outras mil famílias.

Em Marabá não se tem uma prática muito usual, mesmo assim este item pode ser incorporado na meta do Incra como proposta de trabalho.

Esta revisão e retomada, informa deve acontecer em 20 mil lotes de reforma agrária, o que pode ter um potencial de 3 a cinco mil famílias assentadas nestes lotes. Contudo, tais metas, dificilmente seriam alcançadas ainda este ano, afirma Luciano Brunet.


Retomada de terras é mais cara



Jogando para a platéia, o sindicalista Francisco Carvalho, o Chico da Cib, lembrou que os      ‘companheiros’ não aceitam o remanejamento e preferem a desapropriação das terras onde há os acampamentos no Pará.

Para ele, a retomada de lotes em assentamento é muito mais caro. “Não aceitamos conversa mole, queremos a reforma agrária, já estamos debaixo da lona há muitos anos sendo enganados”, comentou.

“Neste governo, que é nosso, não está pautado e nem é prioridade a reforma agrária”, lembrou Francisco Diassis Solidade, da Fetagri comentando que as prioridades são a Casa Civil e o Congresso.

“O Incra não tem coragem de fazer retomada de lotes, o conflito fica pra nós, somos o alvo, estamos ameaçados de morte, resolvam vocês e não coloquem as nossas lideranças na linha de frente. Tenho só um olho e sou capaz de apostar o outro que não vai ter a retomada de lotes”, desafia.

“A grande dívida que o nosso presidente deixou para nós é o enfrentamento com o latifúndio”, concluiu dizendo que independentemente de os companheiros estarem ou não no acampamento, ou em frente ao Incra, tanto faz”, observa.

Presença da polícia criticada




A presença de três policiais federais de Marabá, que faziam a escolta do presidente do Incra foi bastante questionada.

O coordenador regional da Fetagri Diassis SOlidade da Costa lembrou que os policiais poderiam ser usados para investigar quem matou o casal de extrativistas, José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo.

“Bem que poderiam ser usado para investigar quem matou os nossos companheiros e não para nos vigiar”, refutou.
Em tom mais incisivo, o coordenador estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Eurival Martins de Carvalho Filho, o Totô comentou que a reunião seria de trabalhadores e Incra, portanto os policiais poderiam ser dispensados.

“Geralmente a Polícia chega e atua quando se esgota todas as negociações, mas aqui foi o contrário, a Polícia está presente e isto não admitimos, pois somos trabalhadores”, rechaçou.
Celso Lisboa classificou de “golpe no fígado” as críticas direcionadas a ele por conta da presença dos policiais federais.

Citou que está no cargo por acreditar na reforma agrária e que está há 15 anos no Incra, antes, porém, trabalhou dez anos numa grande cooperativa.

Para ele a Polícia não deveria, nunca ter saído da região. Foi vaiado, evidentemente, e em seguida disse que não é possível manter a floresta em pé sem sustentabilidade.

“Não dá para se fazer demagogia é preciso política governamental sustentável, então gostaria de dizer que sabemos dos problemas do Incra, que é mal direcionado e tem capacidade pequena de fazer diante de uma demanda grande”, sintetizou.




Pontos da pauta


Assentamento de 8 mil famílias acampadas em área ocupadas
Estrada nos 503 assentamentos
Construir 3 mil quilômetros em 2011
Recuperação de 10 mil quilômetros em 2011
Energia elétrica para 18 mil famílias no sul e sudeste
Licenciamento ambiental para todos os assentamentos do sul e sudeste
Este ano, licenciar 103 assentamentos
Garantir a universalização da assistência técnica
Garantia de segurança aos ameaçados de morte
Prisão dos assassinos e mandantes dos crimes contra trabalhadores rurais
Fim da violência e impunidade no campo
Fim da grilagem das nossas terras.




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