quarta-feira, 21 de julho de 2010

CIAM não recupera

Tratamento vip no CIAM, mas menores não se recuperam



Qual o percentual da população brasileira que tem acesso a cinco refeições diárias? Difícil de responder, mas os 17 menores que cometerem atos infracionais (crimes) diversos que estão apreendidos no Centro de Recuperação do Adolescente Masculino (CIAM) este é um benefício diário.
Para o honesto trabalhador o mundo é mais duro. Acorda cedo, ganha baixo salário e no final, invariavelmente, sobram contas a pagar. Para quem comete atos infracionais o tratamento é considerado vip.
Além das refeições, são ministradas diversas atividades lúdicas, lazer, entretenimento e aperfeiçoamento dos menores para que possam se recuperarem.
Mesmo com todo esse dispêndio as fugas são comuns e é cada vez mais freqüente a presença de menores participando de crimes, tanto que, recentemente Marabá foi destaque em nível nacional quando o assunto foi menor envolvido em crimes.
A apreensão do menor de 16 anos, no início dessa semana, acusado de matar a estudante Rayara Carvalho Costa em outubro de 2007, reacende a discussão em torno da redução da maior idade penal.
Parentes da estudante não se recuperaram do trauma e questionam o porquê de o menor estar nas ruas.
A tia de Rayara, Cleidimar Rodrigues diz que os parentes não concordam com a apreensão do menor que foge quando bem entende do CIAM.
Para ela, a internação teria de ser em regime mais restrito e que o menor, de fato pudesse ficar mais tempo apreendido. “Não adianta prendê-lo por pouco tempo, pois quando sair vai cometer os mesmos crimes”, disse a uma emissora de rádio de Marabá.
Ela criticou o fato de os menores fugirem constantemente das casas de custódia. “Em Marabá na adianta prender estes menores, pois eles fogem quando bem entendem”, comenta.
Em contato com uma fonte do CIAM, este confirmou que os menores saltam o muro com muita facilidade. “O muro não segura os menores”, comentou.
A recuperação nas casas penais depende muito mais do próprio apenado, tendo em vista que o sistema prisional oferece poucas alternativas de ressocialização.
Dois exemplos de recuperação em Marabá são os ex-detentos: Wandergleisson Fernandes da Silva, que é bacharel em direito e estudou quando esteve preso e o metalúrgico Ricardo Tavares Pinto, que no cárcere não só se recuperou como escreveu o livro: “O paraíso visto do inferno” e tem outros dois prontos.
O professor Raimundo Nonato Barros, também em entrevista a rádio local, comentou que a ressocialização só é possível caso haja o tratamento adequado ao detento.
“Não adianta jogar o preso no cárcere como se fosse um tomate podre, senão ao invés de recuperar sai pior”, comparou lembrando que falta estrutura para que detento saia totalmente recuperado.



Juiz contrário à redução da maior idade



A respeito da discussão em torno da redução da maior idade penal o juiz Lídio Araújo Moura reforçou que é totalmente contrário. “Como sabes sou contra a redução. No Brasil, a primeira discussão que devemos fazer é de simplificar e democratizar a educação”, afirma.
Líbio Moura diz ainda que “atualmente já não se sabe se é 1º grau, ensino fundamental, Mobral ou outro termo. Antes de qualquer tentativa de estender os já superlotados cárceres aos adolescentes, é imprescindível que se tente resolver a causa: investir em educação e nela ingressam os conceitos de cultura e entretenimento”, reforça.
O magistrado indaga a respeito das alternativas de lazer aos jovens. “O que temos, por exemplo, em Marabá para a juventude? Festas regadas a bebida e violência. Qual a outra opção? Que tal bibliotecas públicas, teatro, cinema, artes plásticas e iniciação musical? Será que temos nenhum poeta, músico, artista plástico, ator, diretor de teatro ou cinema recolhido no CIAM ou CIAF?
Creio que o primeiro caminho é esse, conclui.

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