sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Chacina de Pacajá

Ganância e Cumplicidade matam treze trabalhadores no Pará




A Coordenação Nacional da CPT, chocada com uma chacina de grandes proporções no Assentamento Rio Cururuí, município de Pacajá no Pará chama a atenção da sociedade brasileira para o clima de violência na região e responsabiliza as autoridades por novos massacres que possam ocorrer caso providências efetivas não forem tomadas.
Entre os dias 17 e 19 de setembro, 13 trabalhadores do PA Rio Cururuí, foram assassinados num conflito que vinha sendo anunciado há tempo. A causa geradora desta estúpida violência são os interesses de madeireiras que, para obter lucros cada vez maiores, corrompem funcionários públicos e lideranças de assentamentos semeando a sizânia da ganância e da discórdia entre os assentados da reforma agrária e de outras comunidades.
O asssentamento Rio Cururuí foi criado pelo Incra em terras da União e implantado em 2005. A área, porém, era cobiçada pelas madeireiras. Em maio de 2007, a imprensa noticiou que pistoleiros ligados a madeireiros expulsaram dezenas de famílias da área, destruindo seus bens. As famílias que retornaram viviam dominadas pelo medo de novamente serem agredidas.
As CPTs de Anapu e de Tucuruí, desde 2008, vêm recebendo denúncias de assentados sobre o abandono em que vivem. A isto se acrescentou um novo complicador. Um grupo de 70 famílias começou a ser pressionado pelo Incra e pelos dirigentes do assentamento, ligado à Fetraf (Federação dos Trabalhadores na Agricultura), a deixarem a área na qual haviam sido colocados pelo Incra ainda em 2004, antes da implantação do assentamento, sob a alegação de ocuparem a área de reserva legal do projeto.
A reserva, porém, está sendo explorada por madeireiros, alguns presumivelmente sem a devida autorização de manejo florestal, pois em junho deste ano, o IBAMA e policias da Delegacia de Conflitos Agrários do Pará (DECA) prenderam 1.4 mil metros cúbicos de madeira retirados ilegalmente da área.
As denúncias dos assentados repassadas à Ouvidora Agrária Nacional do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) chegaram ao conhecimento dos que estavam sendo denunciados o que desencadeou o conflito que se transformou numa chacina. A Coordenação Nacional da CPT afirma que a política de manejo florestal que incide muitas vezes sobre áreas de assentamentos, ou de comunidades tradicionais, visa única e exclusivamente o crescimento econômico que se concentra nas grandes madeireiras.
Estas utilizam de todos os instrumentos possíveis, legais e ilegais, para explorar a rica diversidade florestal de nosso país. Corromper funcionários públicos e lideranças das comunidades faz parte de sua estratégia. As comunidades camponesas e os assentados, na maior parte das vezes, são totalmente excluídos dos “benefícios” deste manejo.
O que acontece hoje na Amazônia é a repetição do que ocorreu em todo o território nacional desde a época do Brasil Colônia. A natureza é vista como mera fonte de riquezas e é sistematicamente depredada para gerar divisas. As comunidades são espoliadas dos poucos bens que possam ter, quando não fisicamente eliminadas.
A CPT vê ainda como outra fonte potencial de conflitos e violência a aprovação da MP 458, transformada na lei 11.952/09 que regulariza a grilagem de terras na Amazônia. Surgem, em diversos pontos, notícias de conflitos de interesses entre os que buscam a regularização e as famílias as comunidades que tradicionalmente ocupam aquelas terras.
É hora de colocar um ponto final em tanta violência. Titular as terras e territórios das comunidades tradicionais e realizar uma Reforma Agrária ampla com a participação das comunidades e trabalhadores é condição sine qua non para que haja paz no campo


Goiânia, 30 de setembro de 2010

A Coordenação Nacional

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Homicida preso em Tailândia

Edinaldo Sousa - A dona de casa Edileusa Silva Soares, residente na Folha 35, Quadra 19, Lote 13, Nova Marabá sentiu e viveu o que reza o dito popular: “A Justiça tarda, mas não falha” ao vivenciar a prisão do homicida José de Oliveira Lima o Gordinho acusado de ter matado o filho dela Jadilson da Silva Soares.
A vítima faleceu no dia 27 de outubro de 2007, sendo que foi esfaqueado no dia 3 daquele mesmo mês e durante 24 dias foi operado seis vezes e faleceu no Hospital Regional.
A via crucis da dona de casa, porém estava apenas começando após ter sepultado o filho ela disse que fez uma promessa e que não sossegaria enquanto o homicida estivesse preso.
A busca dela cessou na última sexta-feira (24) ocasião em que presenciou a prisão do Gordinho, que após se refugiar em várias cidades estava escondido na Vila Macarrão onde foi preso.
Nesta captura, trabalharam a delegada Sílvia Mara Ferreira Tavares, investigadores do Núcleo de Inteligência da Polícia (NIP) e a equipe do delegado Paulo Renato de Lima Pinto. O acusado está preso em Tailândia, mas pode ser transferido a qualquer momento para Marabá.
Passional – Esse crime, em princípio teria motivação passional. No pivô desse crime havia uma mulher de prenome Fernanda, a “Neguinha”, com a qual Jadilson Soares, que à época tinha 15 anos e mantinha relações amorosas.
O mais estranho que a mulher em questão, teria sido ex-esposa do irmão do acusado, José Luís, porém Gordinho, confidenciou à Edileusa Soares que gostava da Neguinha e que não aceitava o relacionamento dela com o Jadilson.
Na noite em que foi esfaqueado, Jadilson Soares estava na casa da Neguinha, que fica bem próximo da casa dele e Gordinho bebia em bar na avenida principal da Folha 35, porém se armou de um terçado improvisado e foi até a casa para tomar satisfação do casal.
Premeditado – Chegando a esta casa, de acordo com Edileusa Soares, ambos travaram uma discussão, ocasião em que o filho dela teria ferido o Gordinho com um pedaço de madeira e este teria desferido os golpes de arma branca no jovem. “Ele furou o meu filho e torceu a faca dentro dele, pois havia tecidos cortados dentro dele filho”, supõe.
Para ela, o crime foi premeditado, tendo em vista que três dias antes do esfaqueamento, Gordinho, Jadilson e o pai dele, José Alípio Soares foram pescar e numa filmagem de telefone celular, Gordinho aparecia olhando insistentemente para o filho dela. “Naquele momento, tenho certeza, ele já pensava em matar o meu filho”, desabafa.
Promessa – “Prometi no túmulo do meu filho que iria lutar para que o criminoso fosse punido”, sustenta dizendo que após o sepultamento, praticamente a vida dela acabou.
“Não vivo, ele acabou com a minha família, minha mãe vive sob medicamentos, tudo que ganho é para cuidar dela, durante todo esse tempo gastei o que não pude para tentar localizar o homicida e pode ter certeza vou continuar lutando para que a justiça seja feita”, argumenta.
De outra parte, Edileusa Soares disse entender a dor da mãe do Gordinho, porém o acusado está vivo e pode ser visitado numa cela, ao passo que o filho dela está preso debaixo da terra. “Meu filho sim está preso, não posso visitá-lo, nunca mais ele vai falar comigo, mas o filho dela que matou, está vivo e pode perfeitamente conversar com a mãe dele”, compara.
Por fim, a dona de casa aproveitou para agradecer ao empenho dos policiais que participaram dessa investigação. “Muitas vezes voltei da delegacia chorando, pois ninguém queria investigar o meu caso, até a que a delegada Sílvia Mara se empenhou e o NIP ajudou até a prisão do acusado, agora vou lutar para que a Justiça seja feita e ele condenado”, desabafa.

Perigoso pistoleiro matou vários no Pará

Pistoleiro paraense preso em Brasília



Edinaldo Sousa - Agentes da Inteligência da Polícia de Brasília, em parceria com investigadores do Núcleo de Inteligência da Polícia do Pará (NIP) prenderam na noite da última segunda-feira mais um acusado de integrar uma quadrilha de pistoleiros que agia em todo o sul e sudeste do Pará.
Trata-se de Tiago Bizarrias Andrade, 25 anos. Ele estava foragido do Pará, desde junho deste ano. Contra ele pesam pelo menos três homicídios.
Um deles aconteceu no dia 18 de junho, tendo como vítima Abisair Alves Ferreira, o Bibica quando estava sendo transferido para Marabá dentro de uma ambulância na BR 153 em São Geraldo do Araguaia.
Na verdade este crime aconteceu à prestação, tendo em vista que a vítima foi alvejada a tiros no centro de São Geraldo do Araguaia e foi socorrida, porém quando estava a caminho de Marabá e dentro da ambulância, novamente foi alvejada.
Outros dois crimes, segundo o inquérito policial presidido pela delegada Bruna Paolucci, aconteceram no dia 20 de junho em Rondon do Pará, tendo como vítimas: Ruben Araújo Lopes e Sérgio Moreira Figueiredo além de ferir Joel Sousa Oliveira e ter roubado uma moto pertencente à Julimar Glay Pereira com a qual usou para fugir do palco do crime.
Estes dois homicídios aconteceram após uma discussão no bar do Portela no centro de Rondon do Pará, com as vítimas às quais Tiago Andrade disse que tinha desentendimento desde Jacundá.
Quanto ao crime em São Geraldo do Araguaia, pode ter características de encomenda e teve a participação de outro acusado de ser pistoleiro, Wilson Costa Aguiar, preso desde o dia 25 de julho deste ano.
Vale lembrar que a prisão preventiva de Tiago Andrade foi decretada em 25 de junho deste ano pelo juiz Gabriel Costa Ribeiro, titular da Comarca de Rondon do Pará.
Tiago Andrade deve ser transferido na próxima semana para Belém, onde deve permanecer preso e ser ouvido. Oficiosamente a delegada Bruna Paolucci deve colher o depoimento dele a fim de saber quem foi o mandante da morte do Bibica.
Tiago Andrades é o que se pode ser chamado de pessoa da mais alta periculosidade e tem por hábito matar pessoas sem titubear. “Ele não quer saber quem é vítima, mata sem pestanejar”, afirma a delegada Bruna Paolucci.

Crime ambiental em Bom Jesus dura mais de uma década

Lixão em Bom Jesus do Tocantins polui nascente



Edinaldo Sousa - Um lixão a céu aberto em Bom Jesus do Tocantins está causando uma tremenda dor de cabeça a dois proprietários de lotes rurais daquele município em face aos constantes incêndios que acontecem nesta área por conta de ação do vento. O fogo é ateado por funcionários da Prefeitura. A coleta de lixo é terceirizada.
Mas os incêndios são apenas um dos problemas, tendo em vista que os dois proprietários: Sérgio Saulo Souza Silva dono da fazenda Liberdade e Enézio Ferreira Dias 94 anos dono da fazenda Campo Verde, denunciam que o lixo está contaminando uma nascente que desemboca no rio Jacundá, que por sua vez deságua no rio Tocantins.
O depósito fica localizado numa área de um alqueire, distante cerca de três quilômetros do centro de Bom Jesus, entre as fazendas Liberdade e Campo Verde, que por conta dos constantes incêndios, foi reduzida a muita cinza, tendo em vista que praticamente os dez alqueires de pasto foram queimados. (ver Box)
Vale lembrar que esse lixão é antigo e existe há pelo menos dez anos. Já houve várias manifestações no sentido de remanejar o depósito para outra região, mas todas as tentativas daquela comunidade foram infrutíferas.
A Câmara de Vereadores, por diversas ocasiões denunciou o caso, inclusive no Ministério Público Federal e em diversos órgãos ligados à proteção do meio ambiente, tendo em vista que, quando chove o chorume escorre para uma nascente na parte mais baixa da área.



Fogo queimou pequena fazenda



Em função da localização entre um pequeno vale diariamente é ateado fogo nos dejetos e nesta época do ano, por conta dos fortes ventos, as labaredas atingiram a pequena fazenda Campo Verde, pertencente ao ancião Enézio Ferreira Dias 94 anos.
Um desses incêndios aconteceu no dia 24 próximo passado e reduziu a propriedade a um amontoado de cinzas. Assim cerca de cem animais, estão praticamente sem alimento, pois, de dez alqueires, restaram apenas dois de pastagens.
Como os animais não estão se alimentando, conseqüentemente não estão produzindo leite, renda principal do pequeno agricultor. “É um prejuízo incalculável, nunca vi uma coisa dessas e nem imagino quando vou me recuperar”, comenta Enézio Dias em meio às cinzas.
O filho dele, Onéas Dias, que atualmente está administrando o que restou da pequena propriedade dele, patrimônio principal dele que praticamente acabou.
Vale lembrar que esta não é a primeira vez que a propriedade é incendiada por conta de incêndio oriundo o lixão.
Na administração da prefeita Luciene Geralda Resende Veras (PSDB), segundo Onéas Dias parte do pasto foi queimado, porém a ex-prefeita auxiliou no reembolso, inclusive comprou ração para o gado do ancião. (E.S.)


Ancião pretende cobrar prejuízo na Justiça



Por conta dos prejuízos sofridos com o incêndio, o ancião pretende constituir advogado para requerer da Prefeitura de Bom Jesus do Tocantins, ressarcimento junto à Prefeitura de Bom Jesus do Tocantins.
Ontem à tarde a reportagem deste jornal manteve contato com o prefeito deste município Sidney Moreira de Souza, que por sua vez disse que não poderia falar com a imprensa, pois estava em uma reunião.
Enquanto o prefeito não se pronuncia a respeito desse lixão os dois pecuaristas amargam prejuízos. Vacas já foram mortas, inclusive um dos animais foi morta provavelmente por indigestão.
Onéas Dias informou que uma vaca ingeriu uma sacola plástica e por conta disso morreu. “O animal come, mas não digere, começa a emagrecer e morre”, relata mostrando os restos de um animal morto. (E.S.)

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O BEZERRO DE OURO

Assistindo ao espetáculo que foi a Cavalgada de abertura da Feira Agropecuária de Xinguara, no dia 18 de setembro fiquei impressionado com a grandiosidade do evento, os inúmeros cavalos enfeitados, com seus cavaleiros e amazonas, as carroças, os carros antigos puxados por bois fortíssimos... até uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, com um locutor profissional fazendo uma oração.
Contemplei a apresentação de várias fazendas, destacadamente, daquelas pertencentes ao “Grupo Quagliato”.
Em primeiro lugar, desfilou a comitiva da Fazenda Rio Vermelho, a qual estava muito bonita, com expressivo numero de animais e trazia uma faixa parabenizando o povo de Xinguara. Naquele momento, lembrei-me de que dentro dessa Fazenda existem 2.000ha de terra pública pertencente à União Federal, que foram indevidamente apropriados pelo “Grupo Quagliato”. Recordei-me também que este imóvel foi classificado neste ano como improdutivo pelo INCRA, não cumprindo a sua função social, diante da existência de 11.000ha sem nenhuma utilização e com desmatamento ilegal, bem como de quantas denuncias de trabalho escravo foram feitas, desde os idos de 1980.
Em seguida, foi a vez da Fazenda Brasil Verde, igualmente bonita, com belos animais e muitos enfeites, exibindo uma faixa onde dizia: “Parabéns ao Sindicato Rural”. Esta Fazenda também foi alvo de diversas denuncias de trabalho escravo, que deram origem inclusive a processo criminal, que ora tramita na Comissão de Direitos Humanos da OEA.
Logo após estavam ainda a Fazenda Colorado e a Fazenda São Sebastião. Como não me lembrar que a faz Colorado também já foi denunciada pela prática de trabalho escravo? E que assim como a Fazenda Rio Vermelho e a Fazenda Brasil Verde já apareceu na “Lista Suja” do Ministério do Trabalho? Esta “Lista” relaciona todos os imóveis que foram flagrados escravizando trabalhadores.
Por fim, passou a Fazenda Santa Rosa, com uma grande e bonita comitiva, ocasião em que me veio ocorreu a lembrança de que, assim como a Fazenda Rio Vermelho, este ano também a Fazenda Santa Rosa foi classificada como improdutiva pelo INCRA, uma vez que não cumpre a sua função social.
Tem-se noticia ainda de que em vários imóveis do “Grupo Quagliato” foi verificada a prática de crimes ambientais.
Diante de tudo isso, fiquei refletindo sobre que oração poderia ser feita a Nossa Senhora Aparecida? O “Grupo Quagliato” é riquíssimo, com propriedades no Pará, Goiás e São Paulo, mas de onde vem essa riqueza? Será que a historia desse enriquecimento não teria sido feita com suor e lágrimas do povo? Será que se trata de um enriquecimento realmente justo?
Qual seria o sentido dessa oração a Nossa Senhora? Será que todos esses grandes fazendeiros, membros do Sindicato Rural, rezavam para que esse enriquecimento injusto - segundo o Evangelho - continuasse? Será que nesta região o gado não se tornou também um ídolo como o bezerro de ouro no Livro do Êxodo (Ex, 32,1-8)?
No auge dessa grande festa, em cujo centro está o boi e a riqueza que gera para poucos, tivemos o Evangelho do domingo, 19 de setembro, que falou sobre a parábola de Jesus acerca do “dinheiro injusto”, que por medida de prudência deve ser partilhado (Lc, 16, 9).
Em Santana do Araguaia, na praça da Bíblia tem uma grande escultura da Bíblia, diante da qual a alguns metros, há uma imensa estátua de um boi. O que escolher: o bezerro de ouro ou a palavra de Deus? O livro do Êxodo, fala que o povo de Deus, na sua caminhada rumo à Terra Prometida, se revoltou contra o Deus que os tinha libertado do Egito porque a Sua Lei – diferente da lei dos homens - era dura demais e por isso passaram a adorar o bezerro de ouro.
Será que o bezerro de ouro não se tornou hoje também nessa região o deus de muitos?
Xinguara-PA, 27 de setembro de 2010.

Frei Henri Burin des Roziers
Advogado da Comissão Pastoral da Terra