Em pouco mais de 48 horas, três crianças morreram no sul e sudeste do Pará.
Uma delas, de apenas cinco anos, foi literalmente esmagada pelas rodas de uma pesada caçamba que manobrava para entregar seixo, fato que aconteceu na manhã da última segunda-feira, na rua São José, bairro São Felix I.
À noite, uma criança de onze anos, foi encontrada pendurada numa corda, na rua das Castanheiras, 02, bairro Bela Vista, núcleo Cidade Nova. Ambos os casos aconteceram em Marabá.
Porém, seguramente o caso que mais chocou a opinião pública aconteceu na manhã de domingo, em São Félix do Xingu, sul do Pará.
Uma criança do sexo feminino, de apenas dois meses de vida deu entrada na Maternidade daquele município, na manhã de domingo, aparentemente morta.
O médico ginecologista Eduardo Bayer, de pronto verificou que a criança estava morta e constatou que o bebê apresentava sinais de maus tratos e desnutrição.
O caso foi comunicado imediatamente à delegada Claudiane Maia, que incontinenti diligenciou e prendeu a mãe da criança,
Juliana Martins de Sousa, 23. Após ser ouvida a mulher foi indiciada e autuada por maus tratos, com base no artigo 136 do Código Penal Brasileiro (CPB).
O pai da criança, Valcley Alves Andrade, 31, também pode ser indiciado e preso ao final do processo, uma vez que é responsável pela criança.
Para a delegada não restou nenhuma dúvida quanto aos maus tratos, porém a policial trabalha na perspectiva de provar se o casal, deliberadamente, ou irresponsavelmente, permitiu que a criança morresse e assim autuá-lo por homicídio culposo.
Pra ser ter uma ideia, a criança quando nasceu, há dois meses, pesava 2,7 quilos e dois meses depois morreu pesando apenas dois quilos.
Juliana Martins de Sousa foi autuada e transferida para o Centro de Recuperação Feminino de Redenção, uma vez que em São Félix do Xingu não há celas femininas.
O marido dela deve ter o mesmo destino, uma vez que também era responsável pela vida da criança, segundo informou a delegada.
Abandono desde a gestação
A morte da criança de apenas dois meses, em São Félix do Xingu revela o quanto o estado anda distante das pessoas mais pobres.
Juliana Martins de Sousa, 23 e o marido Valcley Alves Andrade, 31, aparentemente são exemplos clássicos do quanto o trabalhador rural vive em completo estado de abandono.
O casal mora numa fazenda na Vila Taboca, distante cerca de cem quilômetros do centro de São Félix do Xingu. Pra ser chegar ao centro da cidade é uma verdadeira via crucis, diante da falta de estradas vicinais em condições de trafegabilidade. Nessa região é regra esse tipo de situação.
Assim, a mulher, segundo fontes da reportagem, não teve acesso às consultas básicas que uma grávida deve ter, o chamado pré-natal, que permite ao médico acompanhar o desenvolvimento da criança.
Quando Juliana de Sousa deu a luz à criança, novamente, por ignorância, ou omissão do estado, não recebeu atendimento médico.
Pra se ter uma ideia, a criança recebeu apenas duas vacinas, sendo que deveria tomar outras quatro vacinas obrigatórias.
Somado a tudo isso, a mulher não amamentava, simplesmente porque não produzia leite materno, pois também sofria de desnutrição.
A criança deveria receber alimentação especial, algo bastante distante da realidade do casal que vive com apenas um salário mínimo e numa casa paupérrima sem o mínimo de conforto.
Exame – Tecidos do corpo da criança, bem como coração e pulmão foram retirados e devem ser encaminhados para o Centro de Perícias Científicas “Renato Chaves” em Belém a fim de constatar, ou não se a criança morreu, ou não de inanição.
O resultado desse exame complementar, chamado de histopatológico deve sair em um mês.
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