quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Matador de sindicalista condenado

Valdemir pediu perdão, se disse renovado na fé, mas foi condenado

Leão: "perdão é concordar com a impunidade"

Joziane Collinetti: "Perdão chance de uma nova vida"






Presidido pelo juiz titular da Vara de Violência Doméstica, Murilo Lemos Simão, aconteceu nesta quarta-feira (30) o julgamento do pedreiro Valdemir Coelho de Oliveira, réu confesso da morte do sindicalista Pedro Laurindo da Silva, assassinado a tiros no dia 17 de novembro de 2005. Diferentemente de outros julgamentos recentes, o acusado confessou o crime e pediu perdão à família da vítima, o que não sensibilizou o conselho de sentença. No final, quatro das sete juradas condenaram o acusado por homicídio qualificado, a 16 anos e oito meses de reclusão, em regime fechado. 
Na época o crime causou uma grande repercussão com direito a manifestações por parte da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetagri). Laurindo foi morto com características de execução sumária por encomenda, o que caracteriza crime de pistolagem. 
Quem esperava um julgamento cercado de polêmica e com discursos inflamados por parte de defesa e acusação, se surpreendeu com o clima ameno e cortês que transcorreu no Fórum, salvo algumas alfinetas entre as duas partes, comportamento bastante típico em julgamentos.
Durante a inquirição, Valdemir tentou de todas as formas sensibilizar o espírito feminino das juradas alegando estar bastante arrependido, e que se pudesse voltar no tempo, não cometeria o crime. Também pediu perdão à família da vítima, disse que é um homem convertido na fé e que agora entende a gravidade do ato dele, em matar o sindicalista por um motivo banal.
No entanto, negou ter sido contratado por outra pessoa para matar “Pedrão”, como Laurindo era conhecido. O nome do pecuarista Lázaro Barbosa chegou a ser citado como suposto mandante desse crime, o que, aparentemente, não se confirmou.
O acusado alegou ainda que houve uma negociação em torno de um lote rural dentro da fazenda Cabo de Aço, zona rural de Marabá, sendo que tinha adiantado R$ 500,00 e que receberia um lote de cinco alqueires. Essa negociação teria ocorrido no início de 2005, sendo que o crime aconteceu em novembro daquele mesmo ano. “Foi ignorância da minha parte, covardia, matei, me arrependo e peço perdão”, afirmou.
O crime – Pedro Laurindo da Silva foi assassinado com dois tiros de revólver calibre 38, disparados na cabeça. O crime aconteceu por volta das 20 horas, na avenida 7 de Junho, Marabá Pioneira. A vítima estava hospedada em um hotel que leva o mesmo nome da avenida, e estava em Marabá participando de um evento de defesa dos direitos humanos, que acontecia na sede do Incra. Naquela ocasião ele teria dito a parentes e amigos que estava sendo ameaçado de morte, por conta da luta dele pela ocupação da fazenda Cabo de Aço. Pedrão tinha saído do hotel, juntamente com o amigo José Amujaci Serrano da Silva, para fazer uma ligação telefônica.
Quando retornava para já para dormir foi alvejado mortalmente, sem a menor chance de defesa. “Estava cego de raiva, porque ele não entregou o terreno e nem devolveu o dinheiro, por isso matei”, acrescenta.
Apelação – Os advogados Arnaldo Ramos de Barros Júnior, Joziane Bogaz Collinetti, e Ricardo Moura, que funcionaram na defesa do réu ficaram de recorrer da decisão, uma vez que três juradas votaram pela absolvição do acusado. O recurso deve ficar pronto em oito dias e deve ser protocolado no Tribunal de Justiça do Estado (TJE) com o objetivo de tentar anular o julgamento. O acusado, mesmo condenado, deve aguardar o julgamento do recurso em liberdade.


Advogados apelam para sensibilidade das juradas

Fugindo da tradicional tese de negativa de autoria, muita usada em tribunal de júri, os advogados Arnaldo Ramos de Barros Júnior, Joziane Bogaz Collinetti e Ricardo Moura apelaram para o pedido de clemência, ou perdão. Ramos, por várias usou até a Bíblia para tentar minimizar a pena do cliente dele. “Aquele que não tiver pecado que atire a primeira pedra”, citou, dizendo que esta é a mais bela defesa. 
Repetidas vezes o advogado mencionou que a pena serviria de vingança. “Porque não perdoar, o tempo que ficou preso não basta? hoje ele tem duas filhas especiais que dependem do suor dele”, relatou o advogado, citando novamente o evangelho de São Lucas, mencionando que o acusado pediu perdão várias vezes alegando que se pudesse voltar no tempo não cometeria o crime.
Arnaldo Ramos pouco usou doutrinas jurídicas. Citou que se fosse condenado, os quatro filhos do acusado seriam punidos indiretamente, pois ele é o baluarte da família. Mencionou que depois de quase oito anos após o crime, a pena teria pouco efeito prático. “Tem que ser muito homem para assumir que cometeu um crime”, citou a advogada Joziane Bogaz Collinetti, pedindo perdão aos jurados. Ela citou que durante todas as fases do processo o cliente dela não fugiu de Marabá, e ficou quase quatro anos preso. “Não é banalizar o crime, mas é dar uma chance para quem teve a hombridade de assumir um erro, pediu perdão e uma segunda chance de vida”, conclui. 


Defensor refuta tese da defesa 
Quando retornou para a réplica o advogado e assistente de acusação Marco Apolo Santana Leão refutou a tese da defesa, e disse que o pedido de perdão é estratégia da defesa para ganhar algum benefício, no caso de uma condenação. “Se perdoamos vamos dar um atestado de ‘vale tudo’, salve-se quem puder’”, menciona, para em seguida acrescentar: “Sancionar uma conduta criminosa é rasgar todos os códigos penais”. O promotor alegou que o perdão seria premiar o réu. 
“Esse arrependimento não existe”, acrescenta, mostrando recorte de jornal com matéria sobre a prisão do acusado, por porte ilegal de armas. O promotor refutou ainda as passagens bíblicas citadas por Arnaldo Ramos, dizendo que o dom maior é a vida. “Não consigo acreditar numa divindade que defenda esse tipo de crime, não quero entrar nesta seara”, rechaçou, lembrando que o julgamento é feito com base nos códigos penais e processuais.
Concluindo, disse que a confissão do acusado é, sem sombra de dúvida, uma estratégia para amenizar a pena. Se surpreendeu com o comportamento dos advogados de defesa que, para ele, se comportaram de forma educada, mas que não poderia deixar de pedir a condenação do réu, uma vez que o crime aconteceu de forma premeditada.


Viúva criou filhos do sindicalista sozinha

A morte do sindicalista Pedro Laurindo teve consequências negativas para ambas as famílias. Para se uma ideia a mulher da vítima, Katicilene Pereira dos Santos, estava grávida de seis meses quando o marido foi assassinado e, desde então, cria os dois filhos sozinha. Para tanto, conta com a ajuda de amigos colonos que hoje estão assentados na antiga fazenda Cabo de Aço, onde foi criado o assentamento “Pedro Laurindo”.
A viúva disse que durante todo esse tempo passou muitas necessidades e, se não fosse a solidariedade dos amigos, talvez não tivesse conseguido criar os dois filhos que teve com o sindicalista. O depoimento dela causou comoção e a própria viúva chorou em plenário.

Investigador testemunhou crime


Valdemir Coelho de Oliveira foi preso em flagrante, poucos minutos depois de ter matado o sindicalista Pedro Laurindo. Ele foi agarrado por uma equipe da Delegacia de Conflitos Agrários (Deca).
Na verdade, o investigador Rômulo de Sousa Valente estava fazendo um lanche na Avenida 7 de Junho, bem perto de onde o sindicalista foi assassinado. Ele se encarregou de prender o acusado juntamente com os agentes da Deca.
O policial contou que ouviu os estampidos e detectou se tratar de tiros. Dirigiu-se para o local e viu uma aglomeração de pessoas em torno do corpo, e um homem colocando algo na cintura. Era Valdemir Coelho arrumando o revólver. A partir dessa identificação visual o investigador foi informado que o acusado teria matado uma pessoa. Rômulo Valente passou a seguir o atirador, que se deslocou em direção à praça Duque de Caxias e dali, para a Orla Sebastião Miranda. 
Neste meio tempo Rômulo pediu apoio de colegas policiais da Deca, até que o acusado foi preso e apresentado na então Delegacia Municipal da Nova Marabá, onde foi autuado por homicídio e permaneceu preso por quase quatro anos. Valdemir não esboçou nenhuma reação ao ser preso, apesar de ainda estar portando o revólver com que acabara de matar o sindicalista.


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