Os textos abaixo foram veiculados na véspera do Dia das Crianças, do ano passado, como o tema está em voga, eis que publico no blog
Edinaldo Sousa - Elas estão por toda parte, praças, ruas, nos lixões e em muitos lugares insalubres. As crianças de pouco poder aquisitivo, aprendem desde cedo que trabalhar significa lutar pela sobrevivência, trocam as brincadeiras de criança por carrinho de mão, as bonecas por entulhos, enfim perdem uma preciosa etapa de suas vidas.
Exemplo desse desperdício de vida destas crianças pode ser percebido nas ruas da Marabá. Na tarde desta quinta-feira a reportagem flagrou três crianças empurrando carrinhos de mão carregados de sucatas (ferro velho) e seguiam para um ferro velho localizado em frente à Secretária de Obras da Nova Marabá.
Vendem cada quilo de sucata por R$ 0,25. A renda das crianças deve ser usada para comprar presentes. Foi o que revelou as crianças. “Estou juntando dinheiro para comprar os nossos presentes e minha roupa para ir numa festa de crianças”, revelou uma menor de 12 anos.
As três crianças moram no bairro Quilômetro Sete, Nova Marabá. Todas estudam e usam o tempo ocioso para juntar sucata. A criança de dez anos, que estuda na escola “Tio Ming” disse que entrega parte da renda para a mãe dela, dinheiro que é usado para auxiliar no orçamento familiar. “A minha mãe compra comida pra nós”, afirma. Com ela a prole é composta de dez irmãos.
Comprar um par de sandálias e roupas é o objetivo do menor de 11 anos. Ele estuda na escola Inácio da Sousa Moita, bairro Quilômetro Sete. “Trabalho para comprar a minha roupa e pretendo comprar uma sandália”, arremata o menor.
Todos os três estavam bastante sujos por conta da atividade, uma vez que têm de fazer muito esforço para apanhar a sucata que fica nas margens de rodovias, ou em terrenos baldios.
Mas não são apenas os menores que procuram esse tipo de atividade para sobreviver. Junto com os três menores estava Albertino dos Santos que disse faturar uma média de R$ 50,00 por dia com a coleta de sucata. “Dá pra sobreviver”, comentou sendo bastante lacônico, pois estava atrasado para entregar a sucata no Ferro Velho.
Outro exemplo de sobrevivência neste ramo de sucata é um motorista que pediu para não ser identificado. Na tarde de quinta-feira ele estava entregando uma carga de sucata que lhe renderia cerca de R$ 200,00. “Marabá é o lugar para sobreviver, pois qualquer atividade que a gente desenvolver dá pra ganhar dinheiro”, comentou.
Este motorista estava descarregando vários lingotes de ferro gusa que coletou na área do Distrito Industrial de Marabá e às margens da PA-150. “Quem não conhece passa por cima e não percebe”, diz se referindo ao produto que tem considerável valor de mercado.
Ele não quis se identificar por temer que outras pessoas possam fazer o mesmo assim que ver uma peça de ferro e vender, porém adverte: a atividade é causticante e requer muito esforço físico. “Não é todo mundo que tem coragem de escavacar sucata”, finaliza. (E.S.)
Presente das crianças à base de doação
Se depender de uma infinidade de famílias marabaenses o presente do Dia das Crianças deve vir de doações, seja por entidades filantrópicas, ou de empresários, que nesta época do ano amolecem os corações e doam brinquedos.
É a dura realidade de quem ganha um salário mínimo e tem recursos aritméticos para manter as necessidades cada vez mais geométricas e nem sempre sobra dinheiro para comprar o tão sonhado presente da criançada.
É o caso do jardineiro Lourival Ferreira dos Santos, o Marajó, 58 anos, morador da rua São João Del Rey, 1.010, bairro Liberdade. Com ele moram dois netos, que dificilmente terão presentes.
“Está cada vez mais curto o dinheiro”, reclamava. Ontem pela manhã ele estava cumprindo mais um dia de trabalho na praça São Francisco, como faz todos os dias há mais de dois anos.
O Dia das Crianças para ele é somente mais um dia, pois nem sempre tem condições de comprar presentes. “A vida não é fácil pra nós, pois temos muitas obrigações e nem sempre sobre dinheiro”, observa lembrando que poderia ganhar um pouco mais e viver com mais tranqüilidade.
Caso compre os presentes, devem ser apenas lembranças. “Vou me esforçar para comprar pelo menos duas lembranças para os meus netos”, comenta. A propósito, lembrança, no linguajar popular é presente simples, geralmente adquirido por pessoas de pouco poder aquisitivo.
O atendente balconista de drogaria, Edmilson Mendes Lima, que tem quatro filhos também disse que irá comprar lembranças. A explicação é simples. “O orçamento está praticamente todo comprometido”, informa, lembrando que vai utilizar o crédito que tem numa loja especializada em presente no bairro Cidade Nova para comprar as lembranças.
Porém para a dona de casa Poliana Ricklei que estava escolhia presentes para a única filha de três anos a dúvida pairava entre uma boneca de marca mundial (Barbie) e um rádio de brinquedo. Para sanar a dúvida ela levou os dois presentes, pois a intenção era agradar a filha. “Vale a pena ver o sorriso de uma criança quando ganha brinquedo”, relata.
Alegria mesmo teve o pequeno Kauan Burjack, de apenas dois anos. Esta semana ele recebeu dois presentes da avó, a cantoria e compositora Nilva Burjack. O Pimpolho dava gritos de alegria e sem perca de tempo brinca com os dois carrinhos praticamente o dia todo.
Quem não tem avô, mãe, ou avó quem doam presentes tem de se virar desde cedo. É o caso de um menor de sete anos, que mora no bairro Santa Rosa e todas as manhãs “vigia carros” na praça Duque de Caxias para “garimpar” alguns trocados.
O pai dele também é “guardador de carros” nesta praça e a mãe doméstica. São doze pessoas na casa, sendo dez menores. O menor aparenta compleição física diminuta e a visão do olho direito perdida por conta de banhos de rio. Ele comenta que não há dinheiro para comprar presente do Dia das Crianças.
Mostrando algumas moedas, fruto do trabalho dele “vigiando carros”. Disse que dá uma parte para a mãe dele para comprar comida e pretende juntar algumas moedas para comprar o sonhado presente. (E.S.)
No lixão
Criança disputa espaço com urubus
De fato as crianças estão por toda parte. A reportagem flagrou nesta quinta-feira, uma criança disputando espaço entre abutres e urubus no aterro sanitário, ou lixão de Marabá.
“Filma ai moço, quero sair na televisão”, comentou a inocente criança quando percebeu a presença da reportagem. Ela segurava uma bolsa tira-colo que tinha acabado de “garimpar” na montoeira de lixo.
Um ambiente altamente insalubre e fétido, uma criança em busca de objetos que possam ser aproveitados. É a dura realidade de Marabá. Vale lembrar que na entrada deste aterro sanitário há uma placa que é clara nos dizeres: “é expressamente proibida a permanência de menores e adolescentes neste local”, porém a advertência não está sendo observada.
Neste mesmo local a reportagem flagrou agentes de conservação revirando lixo sem usar nenhum tipo de Equipamento de Proteção Individual (EPI) e que pode contrair doenças graves.
Milhões de urubus existem neste local. A cada carga de lixo é uma “festa” pra estas aves de rapina. Os garis e a criança disputavam espaço entre estes “lixeiros” da natureza.
A reportagem levantou que esta criança estava acompanhada do pai e da mãe o que aumenta ainda mais o grau de irresponsabilidade destas pessoas que em tese deveriam proteger a criança e não submetê-la a este ambiente altamente insalubre.
No caso da presença de menores compete ao Conselho Tutelar, ou à promotoria da Infância e Juventude Ministério Público podem conferir o que está acontecendo no lixão de Marabá. (E.S.)
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
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